Uma noite nublada, árvores espessas e um portão antigo. Mais adiante uma casa sombria com duas pessoas de branco sentadas a porta. Parece uma descrição exagerada e estereotipada, mas era assim. Minha primeira vez ali. E por pura curiosidade entrei em um Centro Espírita.
Logo quando cheguei tive que fazer um cadastro, não gostei daquilo. Era como se aquele papel lhe fizesse ter um compromisso de voltar, e eu não sabia nem se ia ficar ali até o final. Como cheguei atrasada, fiquei meio perdida. Fui encaminhada para uma sala onde uma mulher discursava para iniciantes como eu. Entre as falas da mulher uma me chamou atenção: ‘A noite vocês pensam que estão sozinhos, mas não estão”. Era só o que faltava para eu não dormir direito, pensei.
Depois dela ter falado de curas,histórias de espíritas e de como seria o tratamento espiritual, então percebi que estava ali de penetra. As pessoas procuram o centro quando tem problemas.E eu não tinha nada de muito sério para resolver, só minha curiosidade. Como eles iam tratar isso?
Ela então perguntou se as pessoas presentes queriam ser entrevistadas por alguns membros do centro, para expor suas dificuldades. Claro que fui. Em uma parte da casa, os iniciantes eram divididos em cabines, onde em cada uma, pessoas com roupas brancas escutavam o que se tinha a dizer.
Na minha cabine tinha um homem jovem, sereno, tranqüilo, daqueles que parecem que não se irritam com nada, nem que você der uma paulada na cabeça dele. Eu me senti bem a vontade, e como sou tagarela, comecei a contar meus problemas cotidianos. Confesso que me senti mais leve e até fiquei amiga dele, ele estava até contando a história de quando conheceu sua mulher.
Só no final me lembrei que tinha minhas curiosidades a serem tratadas. Então veio a enxurrada: Você vê espírito? Como eles são? Tem algum perto de mim? E esse negócio de áurea, você vê a minha, ela está carregada? E a resposta era: Não, não, não, não. Ele não era médium, era só um dos que seguiam a doutrina espírita. Só revelou algumas respostas vagas. Então percebi que minha investigação tinha apenas começado. E pior, estava ficando tarde e começou a chover forte.
Ao sair da cabine, me vi numa encruzilhada para chegar até a parte da saída da casa. Para chegar lá, tinha dois caminhos: ou eu ia pela parte externa, pela chuva ,ou enfrentava duas salas vazias de um centro espírita. Como demorei muito, a maioria das pessoas já tinham ido embora. Pensei como seria sair dali com o cabelo e as roupas todas molhadas ou enfrentar duas salas escuras, com uma mesa bem grande cheia de cadeiras vazias, que pareciam ser usadas em sessões em que os espíritos ‘baixavam” nas pessoas.
Por mais estranho que pareça eu escolhi passar pelas salas. Andei rápido, tentei olhar só para a última porta que deveria abrir para sair. O medo maior era que ela estivesse trancada. Estava encostada, alívio. Ao sair foi louvada pelos mais experientes. “Nossa, a primeira vez em um Centro Espírita e passou por duas salas escuras, sozinha”. Então, respondi: Sou rápida.
Depois que sai, descobri algo importante. Minha amiga me informou que no final do tratamento espiritual, o médium que coordenava o centro conversava conosco. Mas, tinha um detalhe, ele estaria incorporado pelo espírito de um médico psiquiatra. Era esse médium que teria minhas respostas. E eu não ia esperar até terminar o tratamento para tê-las.