terça-feira, 24 de novembro de 2009

Conversas de velório


Ao chegar ao velório de um amigo, fui percebendo as peculiaridades que povoam essas cerimônias fúnebres. É impressionante o que se ouve nesses momentos. Quando estava tomando um café que era servido no local, não pude deixar de escutar, uma conhecida dizer:

-“Eu sonhei com ele se despedindo”.


Essa frase, em forma de previsão, já escutei várias vezes nessas situações. Mas não sei por que os defuntos iriam se despedir de pessoas que eles só viram umas três vezes.


Não tão distante da mulher da previsão havia um grupo simpático que debatia as últimas horas de vida do falecido. E então como eu estava esperando saiu essa máxima:


- “Ele parecia que sabia que ia morrer”.


Claro, a frase vem acompanhada de alguma atitude do morto que poderia ser totalmente normal, caso ele não fosse morrer poucos instantes depois.


Como em todo velório meu amigo foi beatificado. Algo natural. Até dívidas foram perdoadas. Depois que se morre, não importa se a pessoa tratou mau alguém, se foi egoísta ou se roubou uma velhinha. Afinal, ele morreu, coitadinho. As qualidades dos mortos chegam a ser paranormais de tanto que são ressaltadas. Após sua morte, meu amigo acabou virando melhor em tudo. Uma amiga da mulher da previsão falou:


-”Ele era o melhor filho”. Imagina se ela fosse a mãe dele mesmo.

Mas não há de se negar que existe uma espécie de solidariedade incomum nesses momentos. Vi uma tia-avó do primo do falecido acalentando um quase parente sobre a perda daquela pessoa a qual ela nunca tinha visto viva. Estranha, mas educada. Depois a tia-avó se juntou a um grupo que estava na parte dos comes e bebes. São as pessoas que tornam o evento mais social possível. E de lá ouvi o “disse me disse”:


-“Você viu como ela engordou? “.“ Mentira, eles se separaram?”. “ Não acredito que o João , tão próximo dele não veio!
Vi também os que se preocupavam de verdade, os que choravam e amenizavam o sofrimento da família. Mas o choramingo relâmpago de algumas pessoas prendeu minha atenção. No celular um falou baixinho, com o nariz vermelho de choro:


-“Espera um pouco, depois que eu sair daqui eu vou assistir o jogo com vocês”. Ou era a novela? Não lembro bem.


Porém acredito que o ser humano está sujeito as suas fraquezas. Principalmente quando se trata de assuntos como a morte, de difícil aceitação e compreensão. Aversa, ao que via e ouvia, resolvi abraçar a família do meu amigo. Sai silenciosamente, não tinha o que dizer.

6 comentários:

ThyagoBoo disse...

É isso sim é uma postagem rica em conteúdo, meus parabéns o/

Tenshi Shop disse...

Por isso que não gosto desses tipos de eventos tipo velórios, aniversários, casamentos, passagens de ano, etc, por que as pessoas são tão estranhas de um jeito que podem se tornar melhores amigas de uma pessoa que nunca viu na vida, por isso que as pessoas nunca mudaram, por que, são pessoas!!! BJS, Miza

Unknown disse...

Suuuuuper legal!

=]

JJ disse...

Nessas horas, o melhor mesmo é ficar calado!

Unknown disse...

Falou tudo. Ótimo texto!

Irno disse...

Realmente em um velório é possível perceber as situações mais inusitadas possível.