quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Brejinho


A estrada é de terra. O sol forte. Vejo ondulações e buracos no caminho. Raras bicicletas passam por mim. Uma vaca descansa perto da cerca. Porcos fogem pelo mato. E quanto mato. Árvores secas, grandes, pequenas, algumas coloridas. Tem marasmo nas folhas. Alguns frutos nascem, resistem ao calor. O caju, a carambola, a manga e a acerola alegram a paisagem. Pequenas plantações rodeiam as casas. Milho, feijão, melancia. Também há canteiros de cheiro verde e cebola. Porém, o cinza do verão prevalece. Uma porta de madeira de madeira se abre em um abraço. Acolhe minhas angústias, minha outra casa, o terreno do papai.

Falando de amor......


Todo amor deveria ser correspondido. Deveria ser simples. Intenso e poderoso. O ser amado deveria sentir o que sentimos. Deveria ser assim como nos filmes americanos e nos poemas de Drummond.
Queria ser apaixonável a cada instante. Ser sugada e absorvida por essa força que chamam de amor. Mas, amar não é certo, nem perfeito. É humano (às vezes até desumano ou será animal?).Inconsciente ou consciente, sempre dúvidas e desalinhos rodeiam o amor. Amar é mistério. É inconseqüente, delirante.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Viagem


Medo e comédia. Eram estes as duas sensações que se passavam na minha mente e do meu amigo Irno. Estávamos sentados na rodoviária da cidade de Teresina. Fazíamos perguntas inúteis sobre o concurso que nos inscrevemos e tivemos a ousadia de tentar realizá-lo. O concurso, simplesmente, era o sonho de qualquer jovem formando. Relações Públicas da Petrobrás. Provas em Fortaleza, capital cearense.


Então, claro, movi rios e montanhas, para convencer cinco amigos a compartilhar esse meu sonho. Mas, apenas Irno, talvez até inocentemente, persistiu até o final. Três amigas minhas até pagaram a inscrição, mas só eu e Irno chegamos à rodoviária. Sentia-me responsável por ele. No fundo achei que ele estava embarcando numa idéia deslumbrada minha, meio que distraidamente. Pior, era minha bengala, me apoiei nele, (nunca faria isso sozinha) e nas minhas próprias palavras que lhe repetia: “vai dar tudo certo!”.


Bem, as probabilidades eram mínimas de aquilo dar certo. Nunca tinha ido a Fortaleza, muito menos o Irno. Minto, tinha passado pela capital cearense, quando tinha onze anos. A única pessoa que conhecia ali, que aliais iria conhecer, era a prima de segundo grau de uma colega de trabalho. Alguém com que tinha falado duas vezes no telefone e mais duas vezes pela internet.


Foram dez horas cansativas de viagem, chegamos fortemente abatidos ao solo cearense. Ligamos para nossa “amiga-desconhecida” e aguardamos. O pouco tempo que passamos ali, pareceu os dez mil anos da música de Raul Seixas. Enfim, um carro branco parou e uma menina de cabelos vermelhos sorriu. Um milagre. A partir daí tudo deu certo, como eu havia repetido para o Irno.


Fiquei encantada com a estrutura e beleza da cidade. Percebi que preciso viajar mais e como tenho pouco conhecimento de mundo. A prova do concurso foi a parte mais triste da viagem, a nossa pontuação foi fraquíssima, principalmente para quem já sonhava com o primeiro salário da Petrobras. Mas a motivação inicial da nossa visita a Fortaleza ficou pequena diante do que conhecemos: o espaço cultural da cidade, o artesanato, restaurantes, praias, mas o principal foi o fator humano.


Fomos tratados de forma muito especial, por nossa amiga (agora conhecida há anos-luz) Gina. Tudo vai ficar marcado, até os tombos que levamos no mar tentando acompanhar o nado do irmão mais novo de Gina. Foi um final de semana único, daqueles para relembrar sempre com amigos numa mesa de bar, de deixar saudades.